A Grande Fome de Mao (La Grande Famine de Mao)


A Grande Fome de Mao (La Grande Famine de Mao), documentário histórico de Patrick Cabouat e Philippe Grangereau, 2011.

ENREDO: Após tomar o poder na China em 1949, o “Grande Timoneiro” Mao procurou seguir os passos de Stalin, a começar pela coletivização das propriedades e dos meios de produção, para então conseguir aumentar a produção de alimentos. Emprestando técnicas e verbas soviéticas, Mao sacrificou o interior do país e tornou os camponeses peças de uma grande máquina produtiva – ou melhor, improdutiva –, sacrificando sua individualidade em prol da construção de uma “grande nação” e da luta contra os “imperialistas” americanos e de Taiwan. O fim da individualidade ia ao ponto de determinar a separação de homens e mulheres como em quarteis, a proibição do sexo para os casais e a obrigação do uso do refeitório coletivo. A comida era adquirida por “mérito”: os mais fracos e os que produziam menos eram castigados com a fome.
Em 1953, Stalin morreu e, em 1956, Kruschev revelou seus crimes ao mundo – e alertou Mao para o fracasso da coletivização, que, contrariamente ao que pretendera Stalin, não havia servido para os soviéticos ultrapassarem a produção americana de alimentos. Mas Mao não se deixou abater e, não somente persistiu com sua fórmula na agricultura como “coletivizou” também a siderurgia. Propôs-se a, em 15 anos, ultrapassar a produção de aço do Reino Unido, e conseguiu absurdos tragicômicos: a destruição de vasta quantidade de árvores, panelas e maçanetas para uso nos fornos, que geraram apenas aço de péssima qualidade.
Na agricultura, o mau planejamento gerava erros como a destinação de terras inadequadas aos plantios desejados e cotas inatingíveis. Se inatingíveis na pratica, eles eram alcançadas no papel: para vencer outras regiões, líderes falseavam resultados, por exemplo, jogando palha sob o trigo, para aumentar o volume. Oras, se a produção era teoricamente maior, a cota regional para envio para “pagamento de dívidas” do governo central também o era e, desta forma, somente sobrava a palha para consumo local. Resultou disto que, durante o auge da fome, nos quatro anos do teimoso “Grande Salto Adiante” (1958-1962), grassaram a morte por inanição, canibalismo, “reciclagem” de corpos (desenterrados para serem transformados em adubo), cadáveres espalhados ao longo de estradas; os líderes locais eram donos da vida e da morte, prejudicavam desafetos, trocavam comida por sexo e puniam cruelmente qualquer forma de furto de alimentos.
Enquanto isso, os poucos ocidentais que vinham ao país eram enganados com farsas que de campos férteis e povo sorridente e bem alimentado (ironicamente, até futuro presidente francês François Miterrand escreveu um artigo elogiando os programas de Mao).
Em 1962, Liu Shaoqi, o terceiro homem mais poderoso do país, foi eleito presidente e, em viagem à sua terra natal, descobriu a farsa de Mao, passando a criticar a si e aos demais líderes. Logo pôs-se a desfazer o programa do “timoneiro” e tentar desfazer os estragos. Mas, em 1966, temendo os que lhe pudessem fazer sombra, Mao iniciou a Revolução Cultural, sob a pretensão de atacar os “burocratas do partido”. O Grande Salto Adiante havia sido enterrado, mas outra calamidade se abateria sobre o país, e ela duraria até a morte do sanguinário ditador, em 1976.

AVALIAÇÃO: 50 anos depois do que talvez tenha sido o maior genocídio do século XX, ainda é tabu na China discutir a “Grande Fome” provocada pelo ditador Mao Zedong (ou Mao Tse Tung). Mas este documentário não deixa passar a oportunidade de examinar o assunto com profundidade e revelações surpreendentes. Entre 1958 e 1962, foram 25 milhões de mortos? 36? 48? 55? Muitos documentos foram destruídos, prejudicando uma estimativa correta. Mas, se o último número for o correto, Mao terá conseguido ultrapassar Hitler. E já deixou bem para trás o Holodomor ucraniano (“extermínio pela fome” provocado por Stalin anteriormente ao de Mao).
Além dos impressionantes relatos dos estragos deixados por Mao, são revoltantes as cenas do povo tendo que mostrar uma falsa felicidade e das crianças sendo doutrinadas desde cedo para o ódio aos “imperialistas” (assim como os palestinos do Hamas e o Estado Islâmico/Daesh fazem atualmente com as crianças sob seu jugo).
O documentário é essencialmente baseado nos documentos que puderam ser resgatados e em depoimentos de sobreviventes do Grande Salto Adiante e de dois pesquisadores, o historiador holandês sediado em Hong Kong Frank Dikötter e o jornalista chinês (e membro do PC) Yang Jisheng, que, para explicar por que escreveu a respeito do assunto em seu livro “Lápide” (“墓碑”), explica de forma magistral: “Se uma nação não pode encarar sua história, ela não tem futuro”. Uma lição imperdível sobre como uma liderança pérfida pode rapidamente levar uma nação à catástrofe.
http://www.chinesja.com.br/2016/08/grande-fome-de-mao-documentario.html.

Sobre Roberto Blatt

Sou formado em Engenharia Eletrônica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), tenho M.S. in Computer Systems and Information Technology pela Washington International University e MBA em Administração de Empresas pela FGV. Tenho mais de 25 anos de experiência profissional na área Administrativa Financeira, desenvolvidos em empresas nacionais e multinacionais dos segmentos automotivo, eletroeletrônico e serviços, vivenciando inclusive o start-up, dentro dos aspectos administrativos e financeiros e tendo atuado na gestão de equipes das áreas Administrativa, RH e Pessoal, TI, Financeira, Comunicação e Compras. Professor no Pós-Admin da FGV em Liderança & Inovação e Gestão de Pessoas. Para acessar meu blog com comentários e críticas sobre cinema, cliquem aqui ou, para artigos sobre Administração, Tecnologia e resenhas de livros, em aqui .
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Uma resposta para A Grande Fome de Mao (La Grande Famine de Mao)

  1. Pi Fansub disse:

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