Making a Murderer


Making a Murderer, docudrama escrito e dirigido por Laura Ricciardi e Moira Demos, 2015 e 2018.

ENREDO: Manitowoc, Wisconsin, EUA, 1985. Penny Beerntsen, pessoa importante e querida da sociedade local, é vítima de uma agressão sexual e tentativa de homicídio. Steven Avery, que toca o ferro-velho Avery com a família, é reconhecido por Penny – talvez induzida por policiais que não gostam dos Avery, e particularmente de Steve e de seu histórico de pequenos delitos. Resulta disso que Steve passa 18 anos na prisão, de onde só vem a ser libertado em 2003, quando já haviam surgido os testes de DNA, que o inocentaram completamente e permitiram a localização do culpado. Começa então uma campanha pública e parlamentar para se criar um fundo com o nome de Steve para tratar do caso de jovens presos indevidamente, e Steve pleiteia US$ 36 milhões de indenização contra o condado de Manitowoc. Em 2005 nova acusação, mais grave ainda. Steven é acusado por estuprar, assassinar e queimar o corpo de Teresa Halbach, de 25 anos, fotógrafa de veículos para uma revista especializada, que teria ido ao ferro-velho para uma sessão de fotos. Como em filmes de Hollywood, formam-se equipes de buscas comandadas informalmente pelo ex-namorado de Teresa, Ryan Hillegas, e o carro dela é achado pela prima da vítima escondido na propriedade dos Avery. Dessa vez os testes de DNA e as provas circunstanciais vão contra Steve. Para complicar, Brendan Dassey, o sobrinho adolescente de Steve, confessa a participação no estupro. Foi induzido a confessar ou, como dizem os policiais e a promotoria, sua culpa se tornou insuportável? Ken Kratz, procurador do distrito de Calumet e que gosta de holofotes, conduz a acusação. As provas são insuficientes e não param de pé, para as defesas de ambos acusados. Mas, em 2007, vêm as condenações. A segunda temporada mostra a entrada, do lado de Brendan, dos advogados Laura Nirider and Steven Drizin, especializados em casos de condenações injustas e justiça juvenil. Esta dupla quer provar que o imaturo e intelectualmente deficiente Brendan (QI 70) foi completamente manipulado pelos policiais. Do lado de Steven, entra a renomada advogada Kathleen T. Zellner, que atua pro-bono para casos de homicídio de grande repercussão e dados como perdidos. Nas palavras dela, “nós vamos caçar todas as evidências. Se você não for culpado, elas vão livrá-lo; se for culpado, elas o complicarão mais ainda”. Zellner quer mostrar que os policiais e promotores omitiram informações e provas em seu poder que poderiam favorecer o réu (a chamada “violação Brady”) desde a acusação de 1985, e que o carro o carro teria sido “plantado” na propriedade dos Avery, bem como o sangue de Steven e outras evidências. A defesa dos acusados quer ainda a federalização do caso, por julgar a justiça estadual muito enviesada. Mas o AEDPA (Antiterrorism and Effective Death Penalty Act), de 1996, que veio após o atentado em Oklahoma, só permite intervenção de tribunais federais se o erro do estadual for irrazoável. Enquanto essas discussões seguem e advogados, peritos, policiais e promotores entram em disputas em todas as instâncias da justiça, a cidade se divide pela inocência ou culpa de Steven Avery e do sobrinho.

AVALIAÇÃO: Documentário da Netflix, em duas temporadas de 10 capítulos cada. Na primeira temporada (T1), que vai até o julgamento inicial de ambos, apelações iniciais e prisão, são mostrados muitos momentos do cotidiano da família Avery, e isto cansa em diversos momentos. Na segunda temporada a estrela é Kathleen Zellner, especialista em condenações injustas (e também os advogados de Brendan). Se, por um lado, a incansável Kathleen e seu minucioso trabalho com os depoimentos e com peritos forenses trazem revelações surpreendentes, por outro isso às vezes fica repetitivo. Mas no episódio 7 (E7) ou 8 as coisas esquentam – o serviço de detetive de Zellner vai ficando muito cativante. O documentário faz também convenientes resumos ocasionais, com imagens e diagramas mostrando muito bem o percurso do caso pelos tribunais estaduais e federais e explicando detalhes para os leigos, como os pontos em que poderia ter ocorrido a violação Brady (omissão pela acusação de provas que poderiam ajudar a defesa) e particularidades da lei de Wisconsin, como a “ligação Denny” com o crime (basicamente, se uma terceira pessoa pode ter motivação e oportunidade para cometer o crime em questão e estava próxima o suficiente para que pudesse ser considerada culpada, a evidência neste sentido deve ser admitida). A T1 ficou famosa nos EUA, pois se trata de um crime de grande repercussão, mais ainda pela condenação injusta de Steven Avery no primeiro caso, e ambas as temporadas são claramente um libelo pela inocência feito pelas autoras, que constantemente estão no cotidiano de pai e mãe Avery, mostrando como o caso abalou a família (mais ainda pelo fato de um dos filhos da irmã de Steven ser seu acusador). Mas não é uma tentativa de lavagem cerebral – ou não parece ser 😊. A família de Teresa Halbach também aparece como vítima, se não de Steven, mas de um sistema que não parece resolver a contento este crime. E as reviravoltas são boas, o que compensa a lentidão (ok, nem sempre).

 

 

 

 

 

Sobre Roberto Blatt

Sou formado em Engenharia Eletrônica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), tenho M.S. in Computer Systems and Information Technology pela Washington International University e MBA em Administração de Empresas pela FGV. Tenho mais de 25 anos de experiência profissional na área Administrativa Financeira, desenvolvidos em empresas nacionais e multinacionais dos segmentos automotivo, eletroeletrônico e serviços, vivenciando inclusive o start-up, dentro dos aspectos administrativos e financeiros e tendo atuado na gestão de equipes das áreas Administrativa, RH e Pessoal, TI, Financeira, Comunicação e Compras. Professor no Pós-Admin da FGV em Liderança & Inovação e Gestão de Pessoas. Para acessar meu blog com comentários e críticas sobre cinema, cliquem aqui ou, para artigos sobre Administração, Tecnologia e resenhas de livros, em aqui .
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