Califado (Kalifat)


Califado (Kalifat), suspense dramático de terrorismo criado por Wilhelm Berman, escrito por Niklas Rockström e dirigido por Goran Kapetnovic, 2020.

ENREDO: Dolores (Monica Albornoz) trabalha com refugiados (ou filhos de refugiados) de países do Oriente Médio vivendo na Suécia. Sua principal atividade é impedir que eles sejam vítimas da radicalização islâmica, que pode levá-los a cometer atentados no país ou que o abandonem para se juntar ao “Califado”, o Estado Islâmico (EI ou ISIS), mantido pelo grupo terrorista de mesmo nome em Raqqa, na Síria. Pervin (Gizem Erdogan) é uma imigrante turca que, seduzida pelo sonho de uma vida melhor no Califado, partiu para lá com o marido, Husam (Amed Bozan). Sob o comando de Omar (William Legue), Husam é responsável por planejar atentados terroristas. E a Pervin restam os sonhos destruídos e a vida sem sabor sob a vertente mais opressiva da sharia (lei islâmica). Ela está desesperada para fugir com a filha recém-nascida de volta para a Suécia. Com o celular que lhe deu uma amiga, e que pode lhe custar a vida se descoberto, ela contata Dolores e pede que a resgate. Fatima (Aliette Opheim) é filha de imigrantes iranianos e trabalha na seção de contraterrorismo do Serviço de Segurança Sueco (SÄPO). Por conta de um incidente em suas investigações, ela recebeu da superior Sara (Camila Larsson) e do chefe da seção, Nadir (Arvin Kananian), a tediosa incumbência de monitorar elementos radicais da comunidade iraniana, o que não a anima nada e que não a impede, ainda que à revelia dos superiores, de continuar seguindo as poucas pistas que tem sobre um atentado planejado pelo Estado Islâmico. Ela suspeita de Abu Jibril (Dennis Önder), uma respeitada figura na sociedade, e, quando recebe o telefonema de Dolores para ajudar Pervin a fugir de Raqqa, ela percebe que tem material precioso em suas mãos: ela vai ajudar na fuga, desde que Pervin lhe dê pistas fortes sobre os atentados que o EI pretende executar. Sem opções, Pervin se vê obrigada a arriscar. E a pista que ela tem inicialmente é de que “Al Musafir”, ou “O Viajante”, um recrutador do EI, planeja um atentado de grandes proporções em território sueco. De posse dessa informação, Fatima ainda tenta obter o apoio de Sara e Nadir, mas eles estão cansados de pistas tênues. Agora ela só pode contar com o namorado e colega Calle (Albin Grenholm). A estudante Kerima (Amanda Sohrabi) vive só com o pai, um veterano de guerra checheno amargurado, sempre bêbado e violento, e sonha com a oportunidade de fugir dessa vida. Suleiman (Simon Mezher) e Tuba (Ala Riani) fugiram do radicalismo religioso do Irã. Totalmente afastados da religião, é assim que o casal cria as filhas adolescentes, Sulle (Nora Rios) e Lisha (Yussra El Abdouni). Porém, Sulle, comovida pelas imagens que recebe das “atrocidades ocidentais” contra os muçulmanos, está aos poucos se voltando para a religião, para desagrado total do pai, mas com algum incentivo da mãe. Jakob (Marcus Vögeli) e seu irmão menor Emil (Nils Wetterholm) são dois jovens desajustados socialmente; Jakob saiu há pouco da prisão e logo está encrencado de novo com a polícia. Para a mãe (Maria Alm Norell), são apenas causa de desgosto. Ibrahim “Ibbe” Haddad (Lancelot Ncube), amigo de Dolores, é o simpático e prestativo monitor da escola onde estudam filhos de imigrantes, como Kerima, Sulle e Lisha. Junto de Dolores, ele tem a incumbência de monitorar a radicalização dos estudantes. Mas ele tem outros planos para os jovens…

TRAILER: https://www.netflix.com/br/title/80240005/a>

AVALIAÇÃO: Entre 2013 e 2014, em meio à guerra civil síria, militantes jihadistas tomaram a cidade de Raqqa e estabeleceram nela a sharia (sistema legal islâmico), imposta à maneira dos conquistadores: primitiva e brutal. O retrato exposto pela série sobre a influência do regime de terror tanto localmente como na Europa é assustador. Desempenhos excelentes ajudam a prender o espectador. A desesperada Pervin de Gizem Erdogan e o perdido Husam de Amed Bozan, trafegando entre a desconfiança, o medo e o ódio, já dão bem a medida do que se espera – ela vendo a enrascada onde se meteu levada pelos sonhos de uma vida melhor, ele traumatizado pelas mortes de inocentes pelas quais foi responsável em nome de uma causa e tendo que ser acalmado da esposa, de cuja fidelidade está sempre desconfiado. Ela está desesperada para fugir com a filha e viverem livres, e ele tentando mitigar seus pesadelos, mas fazendo planos para matar mais. Pode não parecer, mas eles ainda se gostam; ele a ama, mas o machismo primitivo que é imposto pelo califado e suas leis o leva a maltratá-la – é o reino do terror onde vivem que os afasta um do outro. E isso é só o começo. Ainda vai se ver o poder de sedução do califado (ou Daesh, nome pejorativo pelo qual eles não gostam de ser chamados) sobre os jovens, inclusive sobre os não muçulmanos, suecos de antepassados bem suecos. E a delicada situação de Fatima (Aliette Opheim), desesperada por obter informações sobre um ou mais atentados dos quais tem pistas muito tênues e forçando seu contato na Síria a extremos antes de lhe conceder a fuga para a liberdade. E o angustiante desespero das famílias em ver as filhas perdidas para o Califado, onde elas se tornam apenas mercadoria em leilão e cujo destino é a reprodução. Ficção com pé na realidade, esta aterrorizante e envolvente telessérie de oito capítulos da Netflix deixa uma ponta de dúvida sobre eventual continuação. Se vier, será tão cativante como esta temporada?

 

 

 

Sobre Roberto Blatt

Sou formado em Engenharia Eletrônica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), tenho M.S. in Computer Systems and Information Technology pela Washington International University e MBA em Administração de Empresas pela FGV. Tenho mais de 25 anos de experiência profissional na área Administrativa Financeira, desenvolvidos em empresas nacionais e multinacionais dos segmentos automotivo, eletroeletrônico e serviços, vivenciando inclusive o start-up, dentro dos aspectos administrativos e financeiros e tendo atuado na gestão de equipes das áreas Administrativa, RH e Pessoal, TI, Financeira, Comunicação e Compras. Professor no Pós-Admin da FGV em Liderança & Inovação e Gestão de Pessoas. Para acessar meu blog com comentários e críticas sobre cinema, cliquem aqui ou, para artigos sobre Administração, Tecnologia e resenhas de livros, em aqui .
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